Tchau setembro. Oi outubro.
Queria muito terminar essa segunda (03) com ótimas notícias, gritando *obviamente em capslock* que tínhamos saído de um pesadelo e que podíamos voltar a ter esperança. Juro que queria, mas ainda não deu e vamos seguir em frente com o segundo turno. Ontem eu votei consciente, votei achando que podia mudar a história, que meu voto ia contribuir para alcançarmos um Brasil melhor. Hoje vou contar minha experiência pra vocês e quem sabe, fazer alguém querer sentir o mesmo.
No domingo tive plantão, das 9h30 às 14h30, pensei em votar antes de ir para o trabalho, mas já tinha acordado meio tarde e perderia os horários dos ônibus que preciso pegar para chegar até lá. Resolvi guardar a ansiedade para depois. Durante essas longas horas, eu não conseguia parar de consumir notícias sobre o assunto, acreditei fielmente nas pesquisas e me agarrei na ideia que nossa política mudaria de rumo, finalmente. Aquele governo acabaria dia 02, íamos vencer.
Antes de chegar, parei no mercado e comprei religiosamente meus cinco pães de queijo com goiabada e um capuccino pronto da marca “três corações”, sempre que faço plantão de manhã, compro meu combo de conforto. Também comprei um almoço (que eu iria descobrir que era ruim horas depois), sabia que aquilo não ia me sustentar até o final do plantão. Paguei tudo com meu belíssimo vale-refeição e segui meu caminho.
Sentada no computador, eu me abastecia de esperança vendo as pessoas lutando pelo que acreditavam. Fiquei feliz de saber que estava daquele lado da história.
Terminei todas as atividades/pendências do plantão e enviei os relatórios estrategicamente às 14h “e pouquinho” para não vacilar com nenhum minuto e pegar os dois transportes públicos que me levariam a tão aguardada ação de votar. Esperei quase meia hora. Alguns ônibus que normalmente passam não estavam fazendo aquele caminho e o trânsito não parecia colaborar com minha pressa e das pessoas que esperavam junto comigo.
Logo que sai do prédio, minha primeira impressão foi que as ruas estavam lotadas demais comparado aos vários domingos que já esperei naquele ponto sozinha (até com medo de acontecer alguma coisa, porque nunca tinha nenhuma alma viva na rua). Foi aí que comecei a entender realmente o espírito de querer mudar as coisas. Nem sabia em quem toda aquela gente ia votar, mas eu sabia do meu voto e estava mais que satisfeita com ele. Me animei pensando ilusoriamente que as pessoas queriam mudanças que nem eu, que nem meu ciclo de amigos. Finalmente o ‘Terminal Capelinha’ chegou, estava aflita querendo que aquele ônibus voasse, já eram 15h00. Entrei e esperei mais 20 minutos.
Cheguei na avenida paulista e o alívio tomou conta de mim, já estava na metade do caminho, precisava cruzar a rua e esperar mais um pouco. Mais um ônibus. Mais alguns 25 minutos.
Quando cheguei no ponto que precisava descer, quase cai. Eu estava tão agoniada que não sabia nem pra onde ir direito, mesmo descendo naquele ponto todo dia e o local de votação ficar no máximo a 800m da minha casa. Fui direto, desci a ladeira e vi pessoas indo e vindo. Saindo e entrando. Verde e amarelo. Vermelho. Eu estava de preto.
Assim que entrei, já sabia minha seção, então fui atrás dos números e para minha sorte, lá estava a sala vazia. Uma fila enorme se formava para outras seções, menos a minha. Entrei meio tímida e as duas mesárias foram bem gentis comigo, elas perceberam que eu estava meio afoita e percebi a agitação delas também. Guardei meu celular na bolsa, coloquei no lugar indicado e fui na cabine. Foi fácil, não demorou mais que dois minutos, mas a cada tecla que eu apertava o sentimento de esperança crescia dentro de mim. Íamos mudar, aquilo ia acabar.
13. Confirma.
Saí de lá achando que podia mudar tudo. Sei que é meio ridículo falar isso, mas não consigo descrever de outra forma. Enquanto subia a ladeira, já se aproximava das 16h00 e em menos de algumas horas tudo podia mudar.
Nesse breve caminho até minha casa, pensei no meu dia e como a realidade que vivia era boa. Eu sabia que meu voto não era por mim, claro que também por meus valores, mas não por mim. Não só por mim e pensei nisso porque lembrei do que uma famosa postou em suas redes sociais esses dias: “vote de acordo com sua realidade”. Não acompanho ela, mas foi um posicionamento tão vazio que circulou e todo mundo acabou vendo, para meu azar.
Eu tenho saudade da época que as pessoas tinham vergonha de dar opinião sobre tudo na internet para não parecerem burras. Como banalizamos tanto o egoísmo assim? Quem se orgulha em não pensar no próximo? Como isso pode parecer não ferir alguém enquanto você acumula milhões e milhões?
“Quem tem apenas aspirações individuais jamais entenderá uma luta coletiva” - e enquanto atualizava os números no aplicativo do TSE, eu sabia que estava naquele montante fazendo diferença.
Quando os resultados saíram, desabei. Não acreditei que tinha chance de viver quatro anos dessa mesma forma, não imaginava existir 50 milhões de pessoas que não entendiam o que eu entendia. Não viam o que eu via. Eu não podia acreditar, me isolei durante a noite e peguei no sono rápido, estava com dor de cabeça.
Na manhã de hoje fiz o de sempre. Malhei, tive reunião do tcc e desenvolvemos mais um pouco do roteiro do documentário. Almocei e fui trabalhar. A vida seguia, era o mesmo de sempre. Passei pelas mesmas ruas que no dia anterior eu vibrava, mas dessa vez só a dor de cabeça me acompanhava.
Milhões de pessoas decidiram não fazer parte disso, pessoas que não escolheram seu lado na hora que precisamos delas, talvez isso seja o que mais me preocupa no momento. Os resultados dos senadores e deputados, talvez isso também me preocupe mais. Quem ainda acredita que a terceira via existe, talvez seja a maior preocupação.
Quem repetir tudo isso no dia 30: me preocupa bem mais.
Espero ter o mesmo sentimento de esperança no final do mês, reconstruindo os pedacinhos que se quebraram durante a contagem dos votos. E espero com todas minhas forças que meu relato da segunda-feira após o segundo turno seja em capslock.
A história está sendo feita na nossa frente.
Vote com consciência, por favor, vote por quem precisa.
Até a próxima segunda!
Considerações: